sábado, 31 de agosto de 2013

Sem título



Gotas de águas tocam a pele
Escorrem pelo rosto feito lava
Desconfigura os traços
Decompõe o nariz, o queixo
Fazem da pele pó
Dos ossos cinza
Gotejam pelos ombros, pelos braços
Lavam a existência humana.

Sabrina Stolle 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Olhar dissimulado



Suas pupilas sombrias penetram no corpo
Percorrem cada veia, cada artéria.
Exploram a arquitetura de cada víscera.
Suas pupilas escuras tocam a alma, estilhaçam as virtudes, as verdades.
Com um só olhar devoram os sonhos e os medos.
Pupilas que consomem o ser lentamente.

Sabrina Stolle

Ilustração feita por Tabita Maier, adorei!!


sábado, 24 de agosto de 2013

Vendaval





O vento sussurra no mar
Espanha as flores para Iemanjá.
No cais às ondas projetadas feito fantasmas.
Não cessa. Remexe rebusca na areia conchas, cores,
Pequenos tesouros nas profundezas.
O vento segue. Assobia no ar, canção de paz.
Agita as árvores. Bagunça o cabelo.
Bate nos prédios, nos carros. Nos pássaros. Não para.
Espalha aromas. Arrepia a pele.
O vento que arrasta o boneco de lata. O vento que destrói a boneca da menina cheia de graça.
O vento que percorre o mar, as ruas, as casas.
O vento que caminha por todos os cantos, o vento que fere até o desigual, da camiseta rasgada ao cetim dourado da regata.

Sabrina Stolle

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sem título



Hora de dormir, cerrei os olhos, fui cedendo lentamente ao sono. Não consegui, despertei. Impossível silenciar a mente depois de um bom romance.
Sobre a escrivaninha deixei um lápis e um papel, neles o pensamento foi ganhando vida. O papel foi sorrindo, sorriso semelhante ao seu, foi brincando com os meus cabelos, me abraçando. O papel foi ganhando forma, voz, emoção, criei você. Materializei na folha seus detalhes, aqueles que eu amo e os que eu não amo também. Hora de dormir, não consegui.
Por horas reli o que havia escrito, tentei estar mais perto, mais colado, não consegui. Hora de dormir. Deixei os sonhos me envolverem, adormeci.

Sabrina Stolle

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A terra do nunca




Depois do alcance das mãos,
Bem atrás das nuvens que os dedos não conseguem tocar
Está a terra do nunca.
Das palavras nunca ditas.
Das caricias reprimidas.
Uma terra feita de sonhos renunciados. De sabores nunca provados.
Casas feitas de lençóis de silêncio, portas de medo, janelas de arrependimento. 
Uma terra vazia de abraços, de carinhos, de tardes colados na rede da varanda.
No jardim nascem todas as manhãs projetos não realizados, passos adiados.
Na terra do nunca guarda-se os cafés desmarcados, os almoços de domingo, o amor não correspondido.
Guarda-se ali toda promessa não cumprida, todos os planos interrompidos, todas as mudanças não vividas. 

Sabrina Stolle

domingo, 18 de agosto de 2013

Piano



As notas que saem vão perfurando lentamente o ar.
Não pare. Deixe sua música invadir a sala.
A cada segundo as mãos vão compondo o veneno da mente.
Sua canção diz aquilo que ninguém nunca quis ouvir. Não pare.
As mãos movem-se cada vez mais rápidas, ríspidas contra as teclas.
Deixe as notas furarem os vidros, quebrar as paredes. Não pare.
Toque para o mundo toque para mim. Não pare.

Sabrina Stolle