segunda-feira, 31 de março de 2014

Asas Machucadas


Quebraram as muralhas
Diluíram a vida em tijolos estilhaçados.
As conexões da realidade com a fantasia foram rasgadas
Mastigaram os voos breves e longos no céu de cheiros e caricias
Nuvens e fragmentos do fim pairaram sobre as asas caídas ao chão.

Sabrina Stolle

Quando as palavras faltam



As palavras começaram a falhar
Sílabas transformadas em ruídos
Silêncio tocando o véu do tempo
Vozes sem som, profecia sem poder.
E assim os gritos percorreram a cidade sem rumo
Feito gargalhadas sem timbre.

Sabrina Stolle

domingo, 30 de março de 2014

Dias sem luz



As gotas da chuva que caem lá fora são as mesmas que caem dentro de mim.
Elas respingam na alma e no coração. Mas não ecoam.
E por mais vazio que eu pareça estar o amor escorre pelas paredes do meu corpo.
Eu sei que as luzes foram lentamente se apagando dentro de mim; um curto circuito assimétrico que corroeu, queimou as minhas estruturas. E por mais escuro que esteja eu ainda te vejo. E por mais defasado que o meu organismo esteja eu ainda sinto algo pulsar a cada toque seu, a cada olhar.
Eu tentei correr, te agarrei em meus braços e te levei comigo em cada esquina em cada rua sem saída. Balancei-te e esmaguei em cada canto que eu percorri. Eu te escondi nos meus sonhos e também nos meus medos. E no pavor de te perder te arrastei pelo caminho sinuoso do meu corpo enquanto eu fugia da escuridão que se alastrava dentro de mim.
Hoje mais nada habita dentro do meu ser além de cinzas de uma explosão, mas eu sei que mesmo sem poder te alcançar você ainda permanece perto. E tento pelas palavras e lágrimas te alcançar, tentando fazer da faísca uma fogueira que esquenta o vazio dentro de mim e me guia para juntar os cacos que restaram. 

Sabrina Stolle

quarta-feira, 26 de março de 2014

Cacos da rotina



Sobre a mesa de vidro se encontram alguns pedaços de papeis rabiscados e canetas falhadas.
O som ambiente são palavras digitadas na mente,
Conceitos e teorias que são quebradas constantemente pelos ruídos vindos do jardim.
O corpo exausto debruçado sobre o livro estremece feito cordas de violão ao ouvir o eco das folhas da palmeira caindo ao chão, subitamente.
As palavras tornam-se tinta que gotejam nos olhos.
A colisão das folhas com o chão movimenta o ser,
Engrenagens que se soltam
Peças enlouquecidas trabalhando sem parar
Sem controle os braços se movimentam sem ritmo,
O corpo rasteja pela sala...
Sem sincronia as letras saem do papel, mergulham no ar colam nas paredes.
O ser salta em direção as cortinas bordadas
Arremessando-se contra o vidro
Tornando-se borboletas brancas que pousam sobre os galhos.

Sabrina Stolle.

domingo, 16 de março de 2014

Bailarina


Hoje eu acordei com ela circunscrevendo a minha mente.
Girava suavemente entre as minhas estruturas
E a cada movimento eu sentia o meu corpo flutuar.
De pés descalços eu caminhava sobre o ar da primavera
Percorria a rotina e ela cantava baixinho para mim, me fazendo sorrir.
Às vezes os passos paravam, colidiam com sentimentos e emoções
Que mexiam e reviravam o meu ser.
E ela me envolvia com saltos e piruetas desatando os nós, me fazendo seguir em frente.
E mesmo perdida, mesmo sem saber qual era o meu caminho ela fazia o som a vitrola me aninhar
Expulsando os monstros da minha mente.
Eu entrava nas notas, no ritmo
E subia cada vez mais alto, a cidade virava miniatura.
E tudo silenciava dentro de mim suavemente, como uma canção de ninar.

Sabrina Stolle.

sábado, 1 de março de 2014

Boneca de porcelana



Deitada na cama eu olhava para ela e ela parecia devolver o olhar.
Nos meus sonhos coloridos ela sorria e nas noites frias a porcelana parecia colar em mim...
A pele macia e os cabelos negros enfeitavam a prateleira do quarto. E ela era mais do que as flores das paredes brancas, ela era seda vestida de renda costurada com histórias de infâncias. No aconchego das brincadeiras, das risadas e cantigas de roda meus olhos cerravam. Nublando cada vez mais a visão dos traços perfeitos colados no cimento...
As luzes das estrelas apagavam e do meu lado ela sussurrava histórias, contos de cruzadas e castelos...
E quando a luz do dia penetrava as cortinas ela lá estava estática sem expressões faciais... Meus dedos curiosos tentaram tocá-la e como espuma ela se desfez em minhas mãos arrancando paginas dentro de mim...
 Em soluços despertei. Caída ao chão a envolvi em meus braços: um vento vazio contra o meu peito...


Sabrina Stolle.