domingo, 24 de novembro de 2013

Contraste



Dar liberdade a mente pode ser muito perigoso. Caminho pelas ruas e vejo pensamentos cadeados, desejos subordinados...
Escondi os meus fios cortados, as minhas desconexões pelas entranhas do meu corpo, temo por ideias castradas...
Por isso não me toque, não sou como as outras pessoas. Cada poro da minha pele esconde segredos...
Uma vida paralela, refugiada nas palavras que saem compulsivamente pelas minhas veias e artérias afundando o meu organismo em ambiguidades... Tingindo as minhas células de cor em uma sociedade que veste preto.
Os meus passos são simétricos com a multidão, mas o meu olhar não... Descompassa ao ver em meio as vestimentas pretas alguma cor escapando pelas partículas do tecido, fixando em luzes emanadas de corpos demarcados por tintas de todas as tonalidades.
Nem todo mundo consegue esconder a sua cor, qual é a sua?

Sabrina Stolle

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Imortal



  De todos os dias essa foi a noite mais longa.
  Os braços demarcados por agulhas se agitavam pelos vãos do lençol, o rosto pálido observava as figuras desenhadas na parede pelos resquícios de luz que sobrevivia a escuridão. Os ouvidos, aguçados, registravam os gemidos da noite, os sussurros de portas e janelas que lutavam contra a ventania da madrugada.
  A cada movimento dos ponteiros o corpo debilitado agitava-se com as constantes oscilações de sístole e diástole do seu coração e afligia-se cada vez mais que a fênix pousava em sua mente.
  Os tons escuros do céu diminuíam no mesmo compasso em que o pássaro se tornava cinza.
  Os dedos dos pés alisavam o algodão da coberta e os olhos negros da fênix seguiam o movimento do corpo.
  As penas se desmanchavam feito trigo e se espalhavam pelos dendritos e axônios se estendendo pelas conexões nervosas.
  Encolheu o corpo em posição fetal, tentou não visualizar a ave, mas ela insistiu, mesmo já sem asas, rastejando pelo córtex cerebral invadindo as estruturas límbicas e picando os componentes da emoção. Foi perfurando cada sentimento...
  A fênix se dissolveu, deixando o meu corpo exposto aos primeiros raios de sol completamente nu, sem vestimentas de desejo, de medo, de amor.

Sabrina Stolle


Imagem obtida da internet. 


domingo, 17 de novembro de 2013

Sem título



E se o mundo deixasse de enxergar?
E se o tato fosse abolido?
E dos sentidos sobrasse apenas a audição?
O que você iria amar? Ostentar?
As vezes no meio da multidão, de buzinas e de passos descompassados o meu olhar se perde em um pingo de cor, seja uma borboleta, uma flor ou qualquer outro rastro de vida apolar a rotina.
E perco-me em pensamentos assimétricos; visualizando o mundo sendo consumido pelas necroses da modernidade.
As veias da vida pulsam no céu azul, nas tempestades, nas savanas. Irrigam um dia de cada vez.
E o corpo adoece quando seus órgãos ingerem a usura, o consumismo e a ganância.
Os alvéolos são tampados por preconceitos e desigualdades, impedindo que o organismo respire ar composto por átomos de justiça, de compaixão...
No meio dos sentidos ambíguos o som do real motivo de se estar vivo se desvia nos labirintos de uma sociedade subordinada.

Sabrina Stolle

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Oscilação



Coração enlaçado, amarrado em pensamentos sem vírgulas sem ponto final...
Coração embaralhado, cartas disputando o certo e o errado
Coração embrulhado de tantas indecisões a tomar, arriscar?
E pela avenida eu vejo a vida passar, o vento carrega as minhas indecisões para outro lugar. Perco-me no toque da chuva que vai deslizando pelos meus cabelos, pelos meus braços, pelos meus pés; transporta para a terra a dor à aflição.
Coração tomado pelas mãos do amor.

Sabrina Stolle

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Fio de esperança


Gotas douradas caíram do céu
Os ventos giraram ao meu favor
Trazendo ao encontro do meu corpo lantejoulas de todas as cores.
O mar do meu olhar aquietou-se,
As ondas te arrastaram para mais perto
Cobrindo a sua pele de um intenso azul
E te perder no meio de navios naufragados nas profundezas fez o mar que habita os meus olhos se esvaziar em lágrimas. 

Sabrina Stolle