Palavras deslizam pelas paredes, pelos outdoors pelas ruas
da cidade.
Frases e textos que penetram a rotina sem pedir licença.
Invadem pupilas cercadas de azul, preto, castanho e verde. Adentram conexões
nervosas de donos de várias idades.
Informações que causam dor, esperança, alegria e tantas
outras emoções instigadas por diversas temáticas e comunicados.
E de todas as consoantes, vogais, sílabas e fonemas uma
frase, contendo quase todas elas, mergulhou subitamente em um pijama doce e
infantil que cobria suavemente um coração e alma transformados, uma garotinha
agora já crescida.
O pedaço de alfabeto percorreu cada canto daquela epiderme,
agora já aguçada. Espiou cada fio, cada pinta como dois amantes que ao se
amarem encontram sua extensão no outro. E foi exatamente esta a mensagem em que
frase, pedaço de alfabeto, viera sussurrar sobre a pele e pensamentos da menina
agora mulher da mulher ainda menina.
Palavras que gritavam que encontros e toques não são apenas
o envolvimento entre duas pessoas e sim a entrega e o encontro consigo mesmo,
com toda a sua existência.
Relacionar-se saudavelmente é estar consciente que somos
seres dotados de um vazio inato, como postula a psicanálise e o budismo, cuja
falta não é possível ser preenchida pelo outro ou coisas materiais. Aliás, a
própria psicanálise, diferente da visão budista, afirma que esta falta é
impossível de ser preenchida, porém podendo ser sublimada.
Estar disposto ao encontro com o outro de forma plena e pura
é se permitir olhar para si, voltar-se para seu âmago e visualizar de forma
sincera e receptiva os seus limites; anseios, medos e desejos. É observar
atentamente e carinhosamente seus defeitos e qualidades. É aceitar seu passado,
estar de bem com o presente e traçar metas atingíveis para seu futuro.
Encontrar-se com o outro é muito mais do ser compreensivo e
respeitoso com o semelhante e seus defeitos e sim ser também compreensivo
consigo pelo simples fato de ser humano e ser suscetível a erros, sendo o
respeito e sinceridade voltados para si atitudes essenciais.
Este assunto me faz recordar de outra cena: dois enamorados
cujos rostos dançavam feito dois bailarinos de papéis. Lábios que percorriam o
rosto com total sintonia, do pescoço até a testa. Boca que escorregava pelo
nariz oposto em perfeita sincronia. Olhares que se encontravam entre o atrito
suave de uma pele com a outra.
E assim, o corpo dela e tudo que a pertencia e a constituía
se estendida ao passo que sua face deslizava sobre a face dele. E ele,
sentia-se alongar a cada toque, a cada carinho e beijo que recebia e doava.
Sabrina Stolle