domingo, 18 de agosto de 2013

Piano



As notas que saem vão perfurando lentamente o ar.
Não pare. Deixe sua música invadir a sala.
A cada segundo as mãos vão compondo o veneno da mente.
Sua canção diz aquilo que ninguém nunca quis ouvir. Não pare.
As mãos movem-se cada vez mais rápidas, ríspidas contra as teclas.
Deixe as notas furarem os vidros, quebrar as paredes. Não pare.
Toque para o mundo toque para mim. Não pare.

Sabrina Stolle

A janela



Hoje acordei e espiei pela cortina entre aberta. Um novo dia, ou para alguns, mais um dia...
Os raios de sol refletiam sobre o vidro, nublando minha visão. Fechei a cortina.
No chão do meu quarto, uma peça de roupa amassada. Sobre a escrivaninha duas xícaras de café.
Tudo tão igual, uma noite quente, um dia vazio.
Entre quatro paredes posso ser quem eu quiser: posso escrever uma canção de amor para você. Posso viver outras vidas, posso ser a princesa dos contos de fadas ou a bruxa das histórias infantis.
No meu quarto sombrio minha vida é macia como um veludo ou dolorida como as brasas de uma fogueira. Tudo depende dos sentimentos que invadem minha mente.
Um raio de luz insiste em penetrar na escuridão do meu dia. Levantar das cobertas e abandonar seu cheiro no meu travesseiro não parece uma boa ideia. Desisto. Deixo as cores da manhã invadir o piso, os móveis, minhas mãos, meu coração.
As lembranças vão se dissipando pelo ar. Seu rosto vai se decompondo como dente de leão que desmancha com o soprar do vento.
Seu perfume mistura-se com o cheiro de primavera.
A arquitetura das árvores, as formas das pedras o movimento da água não se parecem com os desenhos do seu corpo, porém, também deslumbram os meus sentidos.
Retorno ao quarto. Encaixo-me nas lembranças do seu abraço.
Hoje eu sei que a vida é mais bonita do lado de fora da minha janela. 

Sabrina Stolle