segunda-feira, 5 de maio de 2014

Aquarela humana


Hoje eu suguei como um redemoinho todas as partículas que estavam no ar ao meu redor. Transportei tudo que eu podia para o centro do meu ser. Inalei toda e qualquer matéria orgânica e inorgânica que meu corpo suportou.
As paredes já não me contem mais, tenho absorvido e deixando escapar muitas coisas para dentro e fora de mim.
A minha visão anda distorcida, meus movimentos andam cambaleantes como uma música fora do ritmo.  E tudo vai deslizando dentro de mim, algumas coisas aderindo outras vazando como bolhas de sabão.
E não tenho olhado para trás, mas sei que a aquarela das minhas digitais tem pintado muitos edifícios e manchado muitas epidermes. Não tenho medo de andar de braços abertos, sentindo tudo que me circunscreve a noventa e oitenta graus.
Meus pés têm imprimido nas calçadas e por onde andei um pouco do que tomei para mim e embrulhei com sentimentos clandestinos.
A arquitetura do meu corpo tem se apagado com cada registro que tem ficado por onde passei. Os desenhos da minha face têm diminuído a cada dia, por mais que eu tente respirar tudo que me permeia.
Os meus passos desproporcionados e a bússola inquieta fundida no meu coração têm pintado na cidade uma tela com traços fortes e fracos, com cores roubadas, mastigadas e misturadas dentro de mim.
Dissolvo assim, a minha existência a cada pincelada restando apenas rabiscos errantes anexados a pintura.

Sabrina Stolle