segunda-feira, 23 de março de 2015

Desequilíbrio



Um véu sob seus pés
Partículas subiam e desciam
E ele, sobre o tecido fino enrijecia
Na tentativa de se manter vivo.

O véu flutuava no vazio
Carregando na estrutura frágil o corpo pálido,
Calado, imóvel.

Queda livre.
Fragmentos se dissolviam e ecoavam nas paredes invisíveis,
E quanto mais ecoava partículas ilusórias, sobre o nada, o corpo estremecia
Hora se desequilibrando:
O véu abaixando, esticando
Ameaçando partir.
Hora contraindo-se cada vez mais:
Estruturas ósseas e articulares se fundindo feitos dois corpos nus.

As partículas se movimentavam
Ríspidas, colidiam contra o corpo paralisado
Mergulhando em seu sistema
Absorvendo suas memórias e pensamentos até tocarem o véu
Molhando o tecido de saudade, de desejo, de emoções.

Goteja assim, do corpo sua existência.
E o que era rígido se tornava flácido
Braços que caçavam a consistência do seu eu
Introjetadas nas partículas que o perfuravam...
Em uma homeostase perfeita o corpo se direcionava ao fim da seda
Deixando nela impresso os seus últimos segundos de existência. 

Sabrina Stolle