domingo, 11 de maio de 2014

Palavras sem timbre



O vidro está embaçado
Escorrem nele gotas de chuva que umedecem até a minha alma
Listras humanas perambulam pelo pátio
A terra mistura-se a pele.
O calor escapa do corpo,
Desaparece no nevoeiro
Posso ouvir suas vozes silenciosas adentrarem meus ouvidos
Timbres de todas as idades, de todas as intensidades colam-se a minha face.
Meu rosto é um jornal de palavras secretas, lacradas.
Um dos olhares voltados ao chão se direciona a mim
Suas ferramentas caem ao chão
Espalham a lama que descompassam as listras do pijama
Sem piscar ele torna-se uma sombra na multidão de corpos que se movimentam, sem pausa.
Articula a boca cada vez mais rápido,
Ríspido, sem ritmo.
Palavras sem som que trincam o vidro
Estremecem as esquadrias da janela.
Quanto mais oculto a palavra mais forte ela atinge a vidraça.
As rachaduras deslocam projetando-se contra mim...
O jornal estampado na minha cara é furado, rasgado
Manchado de vermelho.
Na mesma fração de tempo em que as palavras desaparecem de mim ele cai ao chão.
Um projétil lançado que silencia novamente o pijama listrado.

Sabrina Stolle